quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Sítio de Ciberdúvidas

Caros colegas,
Recebemos a informação de que já se encontra disponível o novo serviço do Ciberdúvidas – a Ciberescola da Língua Portuguesa – em www.ciberescola.com. O lançamento oficial está previsto para o próximo dia 28 de outubro.
A Ciberescola da Língua Portuguesa é uma plataforma de ensino e apoio ao ensino do português, na componente de língua materna e na componente de língua não materna /estrangeira. Integra recursos para professores, exercícios interativos e cursos a distância. O acesso é universal e gratuito. Não é necessário descarregar nenhum software adicional.
Todos os conteúdos, quer dos exercícios (cerca de 1000 até ao momento), quer dos cursos, quer do banco de recursos, são originais, produzidos e geridos por professores e investigadores em linguística, literatura e ensino de língua. São visadas, equilibradamente, as competências da gramática, leitura, escrita, oralidade e vocabulário. Nesta medida, a plataforma constitui-se como um projeto inovador no universo de oferta de ensino do português via Web.
Chamamos a atenção especial para o menu "guiões" com Guiões de aula: para implementar os exercícios no decurso da aula.
Recordamos mais uma vez o endereço eletrónico: http://www.ciberescola.com/

Com os melhores cumprimentos

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A Fome no Mundo Explicada a Meu Filho

— Quantas pessoas no mundo estão atualmente ameaçadas de morrer de fome?

— A FAO (Food and Agricultural Organization),Organização para a Alimentação e a Agricultura das Nações Unidas, avalia, no seu último relatório, em mais de 30 milhões, o número de pessoas que morreram de fome em 1999 e, para o mesmo período, em mais de 828 milhões de seres torturados pela desnutrição grave e permanente. São homens, mulheres e crianças que, devido à falta de alimentos, padecem de lesões frequentemente irreversíveis. Ou morrem num prazo mais ou menos breve, ou vegetam num estado de deficiência grave – cegueira, raquitismo, desenvolvimento precário da capacidade cerebral, etc.

Tomemos o exemplo da cegueira: em cada ano, sete milhões de pessoas, normalmente crianças, perdem a vista, na maioria das vezes por falta de uma alimentação suficiente ou como consequência de enfermidades vinculadas ao subdesenvolvimento. Cento e quarenta e seis milhões de cegos vivem nos países da África, da Ásia e da América Latina. Em 1999, Gore Brundtland, diretora da Organização Mundial da Saúde, ao apresentar o seu plano “Visão 2020” em Genebra, disse: Oitenta por cento dos afetados na vista seriam perfeitamente evitáveis. Sobretudo por meio de uma dose regular de vitamina A para as crianças pequenas. Em 1990, havia 822 milhões de pessoas severamente afectadas pelo flagelo da fome. Podemos ler de duas maneiras estas estatísticas. Primeira leitura: as vítimas da subalimentação aumentam sem cessar no mundo, especialmente nos países do Sul; mas se comparamos os mártires do flagelo da fome com a progressão demográfica da população mundial, constatamos um ligeiro retrocesso. Em 1990, 20% da humanidade sofria de subalimentação extrema; oito anos depois, “só” 19%.

— Onde vivem as pessoas mais gravemente subalimentadas?

 — No sul e leste da Ásia, 18% dos homens, mulheres e crianças, padecem de uma severa desnutrição. Na África, o seu número alcança 35% da população continental. Na América Latina e no Caribe, 14%. As três quartas partes dos “gravemente subalimentados” do planeta são gente do campo; a outra quarta parte são habitantes das periferias que se amontoam em torno das metrópoles do Terceiro Mundo.

 — A nossa Terra poderia alimentar convenientemente em cada dia todos os seus habitantes?

— Não só isso, mas poderia alimentar pelo menos o dobro da população mundial atual. Hoje em dia somos quase seis biliões de seres humanos na Terra. Há mais de quinze anos, a FAO elaborou um relatório no qual assinalava que o mundo, no estado atual das forças de produção agrícola, poderia alimentar sem problema mais de doze biliões de seres humanos. Alimentar quer dizer fornecer a cada homem, mulher e criança uma ração equivalente a 2.400 ou 2.700 calorias diárias, uma vez que as necessidades alimentares variam segundo os indivíduos, em função do trabalho que realizam e das zonas climáticas onde vivem.

— O flagelo da fome não é então uma fatalidade?

— De modo algum. Se a distribuição de alimentos na Terra fosse justa, haveria comida suficiente para todo o mundo.

— Por que razão nunca ninguém nos fala na escola da fome no mundo e das pessoas que a provocam e daquelas que a combatem?

— Para mim, isso também é um mistério. Muitos professores de institutos e de escolas são pessoas abertas, generosas e estão profundamente solidarizadas com a luta dos povos do Terceiro Mundo. Muitos deles alertam os seus alunos quando se declara uma fome grave e promovem-se coletas públicas. No entanto, não sei de nenhuma escola onde o tema da fome, que mata todos os dias mais gente do que todas as guerras do planeta juntas, figure no seu programa. Não existe nenhum tipo de ensino onde se analise, se discuta o problema da fome, se examinem as suas raízes e os meios de lhe dar um fim.

Mas os técnicos internacionais dizem as coisas bem claras. Ouça, por exemplo, esta frase que é a conclusão de um relatório da FAO de 1998: Recent trends give no room for complacency as progress in some regions has been more than offset by a deterioration in others[1]. Isto quer dizer que as batalhas ganhas numa frente são imediatamente anuladas pelas derrotas sofridas noutra. Os bons sentimentos não bastam, são um luxo para os filhos dos ricos. A calamidade da fome manifesta-se de mil maneiras. O seu aparecimento e os seus efeitos exigem análises precisas e pormenorizadas. Mas a escola não diz nada, não cumpre a sua função. Os adolescentes frequentemente saem dela cheios de bons sentimentos e de uma vaga convicção de solidariedade, mas nunca com um verdadeiro conhecimento, uma clara consciência das origens e dos estragos da fome.

— Como se a fome fosse um tabu?

— Exactamente. Um tabu que dura há muito tempo. Já em 1952 o brasileiro Josué de Castro dedicava todo um capítulo do seu célebre livro Geopolítica da fome a esse “tabu da fome”. A sua explicação é interessante: as pessoas sentem-se tão envergonhadas por saber que uma grande parte dos seus semelhantes morre por falta de alimento que ocultam o escândalo com um espesso silêncio. Esta vergonha é compartilhada pela escola, pelos governos e pela maioria de nós.

O nível de alimentação está em relação directa com o nível de bem-estar e com o nível de saúde das pessoas. Por um lado, onde não se come o suficiente, encontramos pobreza, miséria, desnutrição, doença, fome e morte. Por outro, no extremo oposto, onde há meios de subsistência e alimentos, encontramos esperança desde o nascimento, saúde e vida.

Já no ventre da mãe, o bebé sofre as consequências desta desigualdade, inclusivamente na constituição de seu intelecto. A desnutrição da mãe durante a gestação — quando o bebé deve desenvolver o conjunto de células que o constituirão como um ser dotado de todas as suas faculdades — diminui as possibilidades de que a criança nasça, pois a placenta — alimento, água, oxigénio e anticorpos do bebé instalado no útero — não escapa aos danos causados pelas carências de alimentação. A mãe deve nutrir-se convenientemente desde a formação do embrião. A constituição física e intelectual da criança, a sua capacidade de desenvolvimento e a sua força para o trabalho também dependem da alimentação que vai receber desde o momento do seu nascimento. A criança chega ao mundo num ambiente condicionado: ou com muitos privilégios ou com muitas privações. Nos primeiros anos da história da humanidade, o mundo era aquele em que o macho mais forte se apropriava da comida da qual necessitavam a mulher e a criança. Hoje, a história não mudou em absoluto, porque os poderosos continuam a apropriar-se da comida.

— Por quê esses esqueletos da fome? Por quê esse martírio quotidiano, interminável, para tantas centenas de milhões de seres humanos?

— A causa principal das hecatombes por subalimentação e por fome aguda é a desigual distribuição das riquezas do nosso planeta. Esta desigualdade é negativamente dinâmica: os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Em 1960, 20% dos habitantes mais ricos do mundo desfrutavam de uma renda 31 vezes superior à dos 20% mais pobres. Em 1998, o rendimento dos 20% mais ricos é 83 vezes superior à dos 20% mais pobres. A concentração do rendimento e das riquezas nas mãos de uns poucos progride a grande velocidade.

O conceito de desigualdade soa-nos irreal e o seu significado é insuficiente. O termo aparece num mundo que já não se assusta com as estatísticas. As cifras acima referidas escondem uma realidade de sofrimento e de desespero. A desigualdade negativamente dinâmica que rege a ordem actual do mundo produz a seguinte situação: por um lado, um poder político, económico, ideológico, científico e militar sem limites identificáveis, exercido por uma escassa oligarquia transnacional; por outro, a falta de vida, o desespero e o flagelo da fome vividos por centenas de milhões de seres anónimos. A oligarquia decide o destino da multidão. A massa de vítimas anónimas padece, impotente, a sua própria agonia. Só a brutal imbecilidade de um regime de classes sociais existentes antes do seu nascimento, de ideologias discriminatórias, de privilégios defendidos pela violência explica a desigualdade entre os seres humanos.

A política deve velar para que todos possam saciar a fome. Seria horrível tomarmos como natural o facto de todos os anos morrerem dezenas de milhões de pessoas por causa da subalimentação crónica e da fome aguda. A fatalidade não preside à ordem mortal do mundo. Basta lembrar que, no actual estado das forças produtivas agrícolas, seria possível alimentar sem problemas doze mil milhões de pessoas. Alimentar significa proporcionar a cada indivíduo 2.600 calorias por dia. A população actual do mundo chega a menos de seis mil milhões de pessoas.

Conclusão: estamos diante de uma falta contingente e não de uma falta objectiva de alimentos. Por outras palavras, o problema da grave fome no mundo é um problema social. As centenas de milhões de pessoas que morrem todos os anos de subalimentação aguda morrem por causa da injusta distribuição de alimentos disponíveis no planeta. A Acção contra a Fome, organização não-governamental (ONG), de um compromisso exemplar, constata que “um grande número de pobres no mundo carece do alimento necessário, na medida em que a produção alimentar se ajusta à demanda solvente” Quem tem dinheiro, come. Quem não tem, morre lentamente de fome. Trata-se portanto de civilizar o actual jugo do capitalismo selvagem. A economia mundial é fruto da produção, distribuição, intercâmbio e consumo de alimentos. Afirmar a autonomia da economia em relação à fome é absurdo ou, pior ainda, é um crime. Não se pode abandonar a luta contra essa catástrofe ao livre jogo do mercado. Todos os mecanismos da economia mundial devem submeter-se a este imperativo primordial: vencer a fome, alimentar convenientemente todos os habitantes do planeta. Para impor este imperativo é preciso criar uma estrutura jurídica internacional, apoiada em tratados e normas. Jean-Jacques Rousseau escreveu: “Entre o fraco e o forte, é a liberdade que oprime e a lei que liberta”. A liberdade total do mercado é um sinónimo de opressão; a lei é a primeira garantia da justiça social.

O mercado mundial necessita de normas e de uma restrição imposta pela vontade colectiva dos povos. A luta contra a maximização do lucro como única motivação dos protagonistas que dominam o mercado e a luta contra a aceitação passiva da miséria são imperativos urgentes. É preciso fechar a Bolsa das matérias-primas agrícolas de Chicago, combater a deterioração constante das relações de intercâmbio e acabar com a estúpida ideologia neo-liberal que deslumbra a maioria dos governos dos países ocidentais. O ser humano é o único vertebrado que pode sentir na sua consciência o sofrimento do outro. Será que a constituição de uma consciência da identidade, da solidariedade radical com aquele que sofre se infere de um projecto utópico? Não. No decurso da história já ocorreram alguns saltos qualitativos análogos. Por exemplo, o nascimento do Estado. Numa época remota, os humanos fizeram uma escolha fundamental: até então, a solidariedade, a identificação com o outro limitavam-se à família, ao clã, em consequência, àqueles cujo rosto era conhecido e cuja presença física era sensível.

Com o nascimento da nação e do Estado, o ser humano fez-se pela primeira vez solidário com aqueles que não conhecia e com os que provavelmente nunca encontraria. Acabava de nascer um sentimento de identidade nacional, algumas instituições de solidariedade, uma consciência supra-familiar, uma lei comum. A única identidade humana válida é a que nasce do encontro real ou imaginário com os outros, do acto de solidariedade. Não pode haver um mundo dentro do mundo, uma inserção de bem-estar num mundo de dor. É inaceitável uma economia mundial que relega para o não-ser a sexta parte da humanidade. Se o flagelo da fome não desaparecer rapidamente do nosso planeta, não haverá humanidade possível. Portanto, é preciso reintegrar na humanidade essa “fracção sofredora”, que hoje está excluída e perece na noite.


Jean Ziegler

A Fome no Mundo Explicada a Meu Filho

Petrópolis, Editora Vozes, 2002

(Excertos adaptados)

Lê Saboreia e Responde

No âmbito do Dia da Alimentação, a Biblioteca Escolar organizou a seguinte atividade: sugerimos a leitura de excertos da obra Zorro: O Começo da Lenda de Isabel Allende e a resposta a dez questões de escolha múltipla. Entrega as tuas respostas na Biblioteca Escolar.

Identifica nos excertos de Zorro: O Começo da Lenda, da autoria de Isabel Alende, as respostas às seguintes questões:
1.       Nuria preparou um pequeno-almoço que consistia, além de ovos estrelados e arroz, de …
a)       grão;
b)       feijão;
c)       ervilhas;

2.       O cozinheiro do navio preparava uma sobremesa para a refeição de…
a)       sábado;
b)       domingo;
c)       segunda-feira;

3.       Jean Laffite anotava números num livro de contabilidade, enquanto bebia …
a)       café;
b)       chá;
c)       sumo;

4.       O jantar consistiu e m …
a)       sopa de cogumelos, prato de carne e peixe, saladas, presunto e creme catalão;
b)       sopa de cogumelos, prato de carne e peixe, saladas, queijos e creme catalão;
c)       sopa de espinafres; prato de carne e peixe, saladas, queijos e creme catalão.


5.       O padre Mendonza não prescindia de …
a)       chá;
b)       sumo;
c)       café;

6.       Juliana bebeu …
a)       um copo de sumo de fruta;
b)       dois copos de leite;
c)       dois copos de sumo de fruta;

7.        A carne é amolecida através …
a)       da colocação em água salgada durante dias;
b)       da colocação em água com vinagre durante dias;
c)       da colocação em leite durante dias;

8.       Na caverna havia …
a)       comida e bebida em cima da mesa;
b)       comida em cima da mesa;
c)       bebida em cima da mesa;

9.       Chocolate com leite e pão eram a merenda para …
a)       a matriarca;
b)       os criados;
c)       o padre Mendonza;

10.       O melaço serve para …
a)       adoçar o leite;
b)       adoçar o café;
c)       adoçar o chá;
 Para responderes, lê os excertos da obra:

«Na câmara de oficiais havia uma mesa rectangular com oito cadeiras, onde Galileo Tempesta tinha posto o pequeno-almoço. O café adoçado com melaço e fortalecido com um cheirinho de rum devolveu-lhes a alma ao corpo. A aveia aromatizada com canela e cravo-aromático foi servida com um exótico mel americano, gentileza do comandante.»
Isabel Allende. Zorro: O Começo da Lenda: 208

«Não viram o padre Mendoza, que partira cedo para Los Angeles, mas Nuria serviu-lhes um pequeno-almoço notável de feijões, arroz e ovos estrelados.»
Isabel Allende. Zorro: O Começo da Lenda: 260

«O jantar consistiu em sopa de cogumelos, um suculento prato de mar e montanha, em que o peixe rivalizava com a carne, saladas, queijos e para finalizar creme catalão, tudo regado com um tinto das vinhas da família. Diego calculou que com aquela dieta Tomás de Romeu não chegaria a velho e as filhas acabariam gordas como o pai. O povo passava fome em Espanha naqueles anos, mas a mesa da gente abastada esteve sempre bem abastecida. Depois do jantar passaram a um dos inóspitos salões, onde Juliana os deleitou até depois da meia-noite com a harpa, acompanhada a custo pelos gemidos que Isabel arrancava a um desafinado cravo.»
Isabel Allende. Zorro: O Começo da Lenda: 90

«O jantar consistiu num desfile de pratos de influência africana, caribe e cajun, como se chamava aos imigrantes vindos do Canadá: gumbo de caranguejo, feijões vermelhos com arroz, ostras fritas, peru assado com nozes e passas, peixe com especiarias e os melhores vinhos roubados de galeões franceses, que o anfitrião mal provou. Havia um abanador de tecido, para agitar o ar e espantar as moscas, pendurado sobre a mesa, accionado por um rapazinho negro que puxava um cordel, e na varanda três músicos tocavam uma mistura irresistível de ritmo caribe e canções de escravos.»
Isabel Allende. Zorro: O Começo da Lenda: 226

«O missionário mandou avisar Isabel e Nuria de que o jantar estava à espera e sentaram-se os quatro à mesa. Uma índia trouxe um tacho de greda com umas papas de milho e uns pedaços de carne cozida, dura e insonsa como sola. Não havia pão, vinho nem vegetais; faltava inclusivamente o café, o único vício que o padre Mendoza se permitia.»
Isabel Allende. Zorro: O Começo da Lenda: 256



«Dirigiu-se ao sufocante porão do navio, onde o cozinheiro estava a preparar a sobremesa dos domingos, um pudim de melaço e nozes, que a tripulação aguardava todas as semanas com ansiedade.»
Isabel Allende. Zorro: O Começo da Lenda: 85

«Longe de ser uma caverna como a que os prisioneiros tinham imaginado, revelou-se limpa, organizada e até luxuosa. As divisões eram amplas e frescas, a vista das varandas espectacular, os soalhos de madeira clara reluziam, as paredes estavam pintadas de fresco e sobre cada mesa havia jarrões com flores, tabuleiros de fruta e jarros de vinho. Um par de escravas negras conduziu as mulheres aos compartimentos que lhes tinham atribuído.»
Isabel Allende. Zorro: O Começo da Lenda: 222

«As criadas trouxeram sumos de fruta com gelo, transportado pelo rio em caixas com serradura, desde montanhas distantes, luxo a que só os ricos se podiam dar. Juliana, habitualmente inapetente, bebeu dois copos da gelada beberagem e comeu com voracidade tudo quanto havia sobre a mesa, excitada e loquaz.»
Isabel Allende. Zorro: O Começo da Lenda: 229

«Jean Laffite estava sentado no terraço, com uma chávena de café e um prato de beignets, saborosas filhoses francesas, a anotar números no seu livro de contabilidade, quando Juliana apareceu com um pano amarrado pelas quatro pontas e o colocou sobre a mesa.»
Isabel Allende. Zorro: O Começo da Lenda: 239

«Nos primeiros dias dispuseram de leite, carne e vegetais, mas antes de decorrida uma semana tiveram de limitar-se a legumes, arroz, frutos secos e a eterna bolacha dura como mármore e carregada de bicho. Também tinham carne salgada, que o cozinheiro demolhava um par de dias em água com vinagre antes de a deitar na panela, para lhe tirar a consistência de sela de cavalo.»
Isabel Allende. Zorro: O Começo da Lenda: 81

«Era a hora a que a matriarca oferecia uma merenda ao seu exército de criados: almoçadeiras de espumante chocolate com leite e pão para ensopar.»
Isabel Allende. Zorro: O Começo da Lenda: 157

«aprenderam o uso de certas ervas medicinais e a cozinhar à maneira dos Rom. Nuria incorporou nas receitas básicas da tribo - estufado de legumes, coelho, veado, javali, porco-espinho - os seus conhecimentos de comida catalã, com excelentes resultados.»
Isabel Allende. Zorro: O Começo da Lenda: 202

Dia das Bibliotecas Escolares

Hoje, 24 de outubro, é o Dia das Bibliotecas Escolares. Este dia comemorativo integra-se no Mês Internacional das Bibliotecas Escolares.
A Biblioteca Escolar do Agrupamento de Escolas do Concelho de Alcoutim elaborou um cartaz comemorativo deste evento. O cartaz foi concebido pelos alunos Alina Prozorovschi e Miguel Rodrigues da turma A do 9º ano da Escola Básica Professor Joaquim Moreira, de Martinlongo.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Tomas Tranströmer - Prémio Nobel da Literatura 2011

Eis quatro poemas do poeta sueco Tomas Transtromer (1931), laureado com o Prémio Nobel da Literatura este ano. O anúncio da atribuição deste galardão foi tornado público esta manhã em Estocolmo (Suécia) pela Academia Sueca de Letras.

DESDE A MONTANHA
Estou na montanha e vejo a enseada.
Os barcos descansam sobre a superfície do verão.
«Somos sonâmbulos. Luas vagabundas.»
Isso dizem as velas brancas.

«Deslizamos por uma casa adormecida.
Abrimos as portas lentamente.
Assomamo-nos à liberdade.»
Isso dizem as velas brancas.

Um dia vi navegar os desejos do mundo.
Todos, no mesmo rumo – uma só frota.
«Agora estamos dispersos. Séquito de ninguém.»
Isso dizem as velas brancas.
(1962)

HISTÓRIAS DE MARINHEIROS

Há dias de inverno sem neve em que o mar é parente
de zonas montanhosas, encolhido sob plumagem cinza,
azul só por um minuto, longas horas com ondas quais pálidos
linces, buscando em vão sustento nas pedras de à beira-mar.

Em dias como estes saem do mar restos de naufrágios em busca
de seus proprietários, sentados no bulício da cidade, e afogadas
tripulações vêm a terra, más ténues que fumo de cachimbo.

(No Norte andam os verdadeiros linces, com garras afiadas
e olhos sonhadores. No Norte, onde o dia
vive numa mina, de dia e de noite.

Ali, onde o único sobrevivente pode estar
junto ao forno da Aurora Boreal escutando
a música dos mortos de frio).
(1954)


A ÁRVORE E A NUVEM

Uma árvore anda de aqui para ali sob a chuva,
com pressa, ante nós, derramando-se na cinza.
Leva um recado. Da chuva arranca vida
como um melro ante um jardim de fruta.

Quando a chuva cessa, detém-se a árvore.
Vislumbramo-la direita, quieta em noites claras,
à espera, como nós, do instante
em que flocos de neve floresçam no espaço.
(1962)

PÁSSAROS MATINAIS

Desperto o automóvel
que tem o pára-brisas coberto de pólen.
Coloco os óculos de sol.
O canto dos pássaros escurece.

Enquanto isso outro homem compra um diário
na estação de comboio
junto a um grande vagão de carga
completamente vermelho de ferrugem
que cintila ao sol.

Não há vazios por aqui.

Cruza o calor da primavera um corredor frio
por onde alguém entra depressa
e conta que como foi caluniado
até na Direcção.

Por uma parte de trás da paisagem
chega a gralha
negra e branca. Pássaro agoirento.
E o melro que se move em todas as direcções
até que tudo seja um desenho a carvão,
salvo a roupa branca na corda de estender:
um coro da Palestina:

Não há vazios por aqui.

É fantástico sentir como cresce o meu poema
enquanto me vou encolhendo
Cresce, ocupa o meu lugar.

Desloca-me.
Expulsa-me do ninho.
O poema está pronto.

(1966)





Outubro - Mês Internacional das Bibliotecas Escolares

A Associação Internacional de Bibliotecas Escolares (IASL) declarou o mês de outubro o Mês Internacional das Bibliotecas Escolares, cujo lema este ano é "Bibliotecas Escolares. Saber. Um poder para a vida".